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  • Foto do escritorRoni Carlos Costa Dalpiaz

QUEM GOSTA DE COISA VELHA É MUSEU!

Que frase profunda!


Já ouvi esta pérola em várias ocasiões. Assim como esta, várias outras deste tipo, revelam uma imensa falta de conhecimento por quem as repetem. No facebook então, é o habitat natural delas. Não gosto de comentar, mas tanto no facebook quanto na “vida real”, as pessoas pensam pouco no que dizem e por este motivo é bom nem comentar. Como disse, não comento.

Me lembrei de uma coluna escrita há algum tempo em que reproduzia um diálogo entre uma “Casa Velha” e o “Progresso”. Este diálogo tornou o assunto mais leve e muito esclarecedor. Aproveito, então, a antiga coluna para aliviar as diversas indagações encontradas no facebook, a favor e contra “as coisas velhas”.

Escolhi algumas delas e as reproduzi a seguir...


“Quem aqui quer o fone de 20 anos atrás? Quem aqui quer estradas de saibro? Quantos de vcs querem lavar roupa na beira do rio, caminhar 3km para buscar água? Creio q o progresso e o desenvolvimento são inevitáveis, respeito a opinião dos outros…”

“Depende da situação financeira do proprietário se pode dispor ou não quando não é com a gente fica fácil.”

“Tudo poderia ser contemplado e com harmonia. Entendo que nada segura o progresso, mas, também entendo que cabe ao setor público (plano diretor da cidade) contemplar e harmonizar esse crescimento sem a perda da história. Lamentavelmente não moro aí, mas sou daí, e vi quando derrubaram dois casarões da beira mar(ao lado do hotel dunas e a outra na beira mar prainha) e, sinceramente não agregou nada a ninguém essas ações. Ao contrário creio que parte da beleza se foi é óbvio menos turismo. Afinal Torres é uma cidade turística ou não? ????eis a questão!!!!”

“Primeiramente ninguém tem o direito de opinar sobre o patrimônio dos outros, em segundo o que importa mesmo é a felicidade das pessoas. O resto é resto!”

“Torres não é, foi e será turística, Torres é uma cidade de veranistas, antes habitadas pelas casas, hoje por arranha-céus e residenciais.”

“Que construam uma nova BC de arranha céus! Acho bacana. Questão de opinião.”

“Sou de São Paulo..morei em Santos..cidade turística..mas é muito bom passear lá..vc não tem apenas as praias, tem casas antigas que são usadas como patrimônio histórico..fotos e acervos contando como surgiu a cidade desde seu primeiro morador! poderia fazer isso em Torres tbem..contar a história da cidade..seria maravilhoso.

“Não dá para reclamar, a construção de prédios onde eram essas casas antigas empregam muitos pais de família.”


Essas opiniões, coletadas no facebook, sobre o assunto da coluna aqui publicada há duas semanas.

Acho que envolvem bem o assunto, cada um dando a sua opinião. Completo o tema, reeditando, então, a coluna “A velha casa e o progresso”.


A Velha Casa e o Progresso

Com a perseguição desenfreada por mais espaço para construção na cidade, uma área chamada de centro histórico está na mira dos especuladores imobiliários.

Esta, que foi a pioneira área da colonização da cidade e que ainda abriga um pequeno número de antigas construções, parece que foi redescoberta pela construção civil.

A diminuição das áreas para construção está encurralando as antigas casas. Muitas delas já foram destruídas pela primeira investida sobre esta área. Mais tarde, uma segunda investida, deixou esquisitices como uma parede, porta e janelas como lembrança daquilo que foi um dia uma casa. Agora, as restantes, estão novamente em perigo e pedem silenciosas a nossa ajuda.

Para ajudá-las eu simulei um bate-papo improvável, de uma destas VELHAS CASAS com o suposto PROGRESSO. Ele foi – ou deveria ser – mais ou menos assim...

PROGRESSO – Porque a Senhora quer se eternizar nesta área e empacar o crescimento/progresso da cidade?

A VELHA CASA – Ora, porque eu sou a imagem viva de tempos passados, sou um dos bens que constitui os elementos formadores do patrimônio. Sou um ícone repositório da memória. Sou o passado interagindo com o presente, transmitindo conhecimento e formando a identidade do nosso povo.

PROGRESSO – Porque a Senhora se esconde atrás de um tombamento?

A VELHA CASA – Eu não me escondo, eu quero mais é ser vista. Além do mais, o tombamento é que me salva. O tombamento impede a demolição, e somente as ampliações e reformas que possam me descaracterizar. Mas ele não retira a propriedade do atual dono, nem me desvaloriza, pelo contrário, até me acrescenta importante valor.

PROGRESSO – A senhora acha possível a convivência do novo com o antigo?

A VELHA CASA – Não só acho possível como desejável. A arquitetura antiga e a contemporânea devem conviver harmoniosamente. Nos países europeus, por exemplo, isto acontece com vantagens até de ordem econômica.

PROGRESSO – O que uma casa velha tombada como tu, pode trazer de benefícios para a cidade?

A VELHA CASA – São raríssimas as cidades que possuem conjuntos amplos a serem tombados; no geral, as cidades têm apenas bens pontuais para preservação, o que de maneira alguma “congela” o desenvolvimento urbano - ao contrário, valoriza e dá diversidade à paisagem. Uma casa antiga tombada, como eu, tem sua história preservada, e através desse reconhecimento pode vir a incrementar o turismo local. Em termos de sustentabilidade, é uma conquista relevante.

PROGRESSO – Quer dizer que a tua manutenção e recuperação pode atrair turistas para a cidade?

A VELHA CASA – Sim, é fundamental para o desenvolvimento do turismo e para a comunidade, inclusive preserva o meu valor e me dá até novas funções, seja como espaço cultural ou para atividades turísticas e comerciais.

PROGRESSO – Que mensagem uma casa velha como a Senhora pode deixar para os moradores da cidade de Torres?

A VELHA CASA – Todos os povos, todas as sociedades têm o direito de preservar sua história e sua memória, porque é a manutenção das referências que sinalizam os novos caminhos que podemos traçar. Progresso não é só destruir e construir outra coisa no lugar – até porque o novo pode ser nocivo e retrógrado. Progresso, muitas vezes, é, também, a capacidade de poder preservar. No entanto, o que se tem notado com o envelhecimento das cidades é que, cada vez mais, o olhar preservacionista deve ser aplicado, seja pelos que preservam os testemunhos do passado seja pelos que constroem o presente e planejam o futuro. Cada imóvel, cada canto de cidade, seja ele recente ou antigo, deve ser visto sob um olhar preservacionista, seja para manter, seja para eliminar, seja para modificar ou para introduzir o novo em qualquer contexto. A tarefa de preservar o passado, construir o presente e planejar o futuro, tecendo o fio da história, coloca os planejadores e executores das cidades na condição de missionários. Quando se atua em preservação do patrimônio arquitetônico atua-se na esfera da dualidade entre o antigo e o novo, entre criar (inventar) e preservar (manter/conservar). Em tempos de obsolescência programada, a busca do novo é o propulsor dos devaneios da sociedade.

Encerro a coluna com estas sábias palavras de um mestre torrense do improviso Paulo França (Preserve Torres):

“Bah professor!!!vem aí o plano!!!! Diretor!! Marisqueirologia não sou paleontólogo!! Ma$ $ão o$$o$ do ofício!! $ei que não é fácil!!! Edifício!!!!”

Fontes: Adaptação de textos da Cartilha do Ministério do Turismo; Patrimônio & Especulação imobiliária de Clênio Sierra de Alcântara; Conservação e restauro Arquitetura – Organização de Márcia Braga.




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