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  • Foto do escritorRoni Carlos Costa Dalpiaz

PALAVRAS E EXPRESSÕES DO “TORRENSÊS”

Não sou daqui, mas me criei aqui. Moro em Torres desde os meus 5 anos de idade e desde lá ouço as pessoas falando uma expressão bem curiosa. A expressão é: “Di já hoje”. Sim, assim mesmo “di” e não “de” como seria o certo. Muitos abreviavam ainda mais a expressão, transformando-a em um “jáhoji”. No nosso “gauchês”, o “De já hoje” é uma expressão usada para dizer “o dia de hoje” ou simplesmente hoje. Assim como em todo o estado a expressão tem o mesmo significado, apenas o modo de falar daqui, a torna singular.



Convivi com muito desses termos e palavras só usadas por estas bandas. Além da já falada, “Di já hoje, existem várias outras não sei se vou me lembrar de todas, mas tenho algumas bem marcadas em minha memória como: Nego(a)/neguinho(a), “Intornar”, Paranhos, “Pois então”, Coruja, Ladina, “Periga”, “Devalde”

Meu pai trabalhou com uma revenda de bebidas durante mais de 30 anos e neste ramo de atividade era necessário trabalhadores com muita força, o que não se encontrava muito pela cidade. O jeito era recorrer ao interior do município onde estavam os trabalhadores rurais, acostumados com trabalhos pesados. Estes aproveitavam a época da entre safra e vinham para a cidade procurar emprego, principalmente na temporada de verão. E foi através desses trabalhadores, que eu fui apresentado para alguns desses termos. Agora torrenses, os termos são oriundos de diversos lugares, principalmente do vizinho estado de Santa Catarina, que pela proximidade, foram mesclando e se adaptando ao nosso linguajar cotidiano.

Não sou expert no assunto, sou apenas curioso e como tal vou explorar essas palavras e termos que conheci ao longo dos meus quase 60 anos. Nesta condição vou mostrar a palavra, seu significado e o meu ponto de vista (nada científico).

Nego, nega, neguinho e neguinha. Estas palavras ditas hoje, teriam que vir com muitas explicações ou nem faladas, dada a repercussão se mal colocada. Na minha infância sempre ouvi as pessoas tratarem as outras dessa forma carinhosa. A expressão nada tinha a ver com a cor, etnia, procedência, raça... era apenas uma singela demonstração de apreço pela pessoa, como talvez um “meu amor”, “minha querida(o)”. Com o passar dos anos ainda vejo um ou outro falar, mas com muito cuidado!

“Intornar” ou melhor, Entornar. A palavra tem como significado virar, emborcar, derramar, mas é usado também como “a coisa ficou difícil, complicada”. “Intornou o tempo prás bandas do mar”.

Paranho ou paranhos. Paranhos é um acumulado de sujeiras, poeiras, as quais lembram uma teia de aranha. O canto da parede está cheio de paranhos. As limpezas da casa onde morava sempre eram precedidas de guerrilhas contra as teias de aranha, as Paranhas!

Pois então. Esta é uma expressão que eu nem sabia que existia, embora sempre falasse. Foi um colega de faculdade que me alertou para o termo. Um certo dia ele perguntou porque os torrenses usavam a expressão “pois então” para começar qualquer resposta. Pois então, eu não sabia! Disse em resposta.

Coruja. Vamos comer uma coruja? Como assim, em Torres se come coruja? Sim, mas não aquela que voa. A coruja é uma rosca de polvilho bem grande e aerada, bem comum em qualquer padaria da região.

Ladina. Para muitos Ladina é só o feminino de ladino. Mas para nós torrenses, é uma rosca de polvilho azedo frita no óleo bem quente.

Periga. Este também é derivado de uma palavra bem conhecida, Perigo, e que todos sabem o que significa. Porém este “Periga”, usado por aqui, corresponde a um “está prestes a acontecer”. Juntado os dois podemos fazer uma frase curiosa: O perigo periga!

“Devalde”. Na verdade o termo certo é Debalde, que quer dizer inutilmente, em vão. Ao dizer que alguma coisa é debalde, o sujeito indica que aquilo é desnecessário, inútil, que não tem serventia e será desperdiçado. Por aqui já vi esta palavra sendo usada para quem não está fazendo nada: “Devalde à toa”.

Estas são algumas das palavras e expressões do “torrensês”, se é que dá para se classificar assim. Claro que existem muitas mais e que certamente me lembrarei com o tempo, mas se alguém lembrar de outras, é só me enviar via e-mail (ronidalpiaz@gmail.com).

De posse de mais palavras e expressões certamente posso dedicar mais uma coluna antes que sejam esquecidas ao longo das gerações.


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