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  • Foto do escritorRoni Carlos Costa Dalpiaz

COLUNAS ANTIGAS - O ESPIGÃO DA DONA BERTA

Coluna originalmente publicada no Jornal A folha em 2014.


Na onda da discussão sobre os espigões à beira mar lembro-me de um dos primeiros prédios altos da cidade: O edifício da Dona Berta. Próximo a prefeitura e ao lado de algumas das mais antigas casas de Torres, lá está o edifício mal assombrado da minha infância e a de tantos outros até hoje.

Às vezes esquecido, mas sempre ali, o velho edifício se mantém em pé contrariando a tudo e a todos. Diz a “lenda” que naquele edifício incompleto havia uma velha senhora ou o fantasma dela assustando quem lá ousasse entrar. Isso era o que nós alunos do ESD falávamos sobre o tal edifício.

Procurando conhecer um pouco mais sobre o tal prédio, resolvi investigar a história e fiquei sabendo que ele pertencia a Dona Berta, uma senhora “bem de vida” (rica, talvez) e muito, digamos, “alegre” no escolher suas roupas (hoje a chamariam de Perua). Em certa altura de sua vida resolveu construir um edifício em uma das principais ruas da cidade, a rua Júlio de Castilhos. Pelo que se sabe ela investiu uma grande parte de seu patrimônio erguendo o chamado “espigão”. Quando o prédio estava quase pronto, o falatório pela cidade sobre possíveis rachaduras e perigo de desabamento forçaram as autoridades a interditarem a construção. Este fato não muito bem explicado durou muito tempo e isto a fez ficar perturbada. Durante alguns anos ela perambulava entre os andares do prédio inacabado.

Pelo visto a aversão a espigões é bem mais antiga que pensávamos. Será que houve discussão sobre a construção ou não do velho espigão? Sombra na praia? Especulação imobiliária? Havia “investidores” ou construtoras na época? Acho que não. O que teria acontecido? Por que teria sido rejeitado na época? Só pelas rachaduras ou algo mais sacudia e incomodava a sociedade da época? Talvez o diferente, o inovador, o desestabilizador, o desconhecido criou insegurança aos moradores e o poder público da época. O fato é que interditaram o tal prédio e como monumento a ignorância e ao descaso ele nos assombra ainda nos dias de hoje. Talvez agora não tão firme, mas ainda de pé.

Quantos fantasmas nossa cidade ainda convive e tenta expurgar. Um que de tempos em tempos aparece é o fantasma da construção de prédios na famosa zona 8. Há alguns anos esta discussão resultou na não liberação de prédios altos nesta área. Hoje novamente em pauta, provocou a manifestação de famosos (como Martha Medeiros, Iotti entre outros) e a revolta de anônimos (não tão anônimos assim, pois estavam nas mídias sociais identificados).

Novamente não se olha para trás para seguir em frente. O que Torres pretende ser no futuro? Quer continuar investindo no Turismo tal como faz hoje (desta mesma forma ou sem forma definida) ou quer mudar o seu principal foco? A palavra fundamental é foco. Tendo um foco determinado tudo fica mais fácil para planejar e direcionar os recursos disponíveis, inclusive para poder discutir e se posicionar sobre a definição da liberação ou não da construção de espigões, a forma de construção, seus impactos, ou simplesmente deixar como está até a próxima aparição deste famoso e insistente fantasma.

Acho que posso ouvir a velha senhora resmungando sobre as verdades ditas pela Martha!



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