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  • Foto do escritorRoni Carlos Costa Dalpiaz

EPIDEMIA POR AQUI NÃO É NOVIDADE

Quem não conhece a história da cidade acha que esta é a primeira epidemia que acontece por aqui. Não, não é.

A região de Torres já passou por algumas epidemias (globais ou não) e todas levaram vidas torrenses.



“Às epidemias é atribuído um importante papel na história das diferentes populações humanas. Através das visitações ocasionais e inesperadas a peste, a varíola, a febre amarela, a cólera, a tuberculose, AIDS, e atualmente a COVID19, vêm afligindo às sociedades e chamando atenção dos estudiosos, pois em época de visitação, apesar da consternação geral, a sociedade é obrigada a se renovar”.


Voltando lá no início da colonização da região, já há indícios dos primeiros surtos, principalmente nos imigrantes recém-chegados. Era a Malária.

Também conhecida como “impaludismo”, a malária, atacava silenciosamente esses primeiros imigrantes e, como havia pouco a se fazer, a incidência de mortes era muito alta. A presença da Malária na região, foi relatada por Francisco Raupp em seu livro “Além da quarta lagoa”, onde diversos personagens, inclusive o principal, sofreram e morreram pelo “Impaludismo”.

O termo “Malária” tem origem no italiano, “mala” + “ária” que significa insalubridade do ar. Por sua vez o Impaludismo vem do latim “palus” que significa pântano. Ou seja, um culpava o ar e o outro o pântano. Na verdade a doença tinha ligação com os dois.

Descoberta em 1878 pelo médico francês Charles Alphonse Laveran, a doença resultava de um parasito do sangue (plasmódio). Este parasito entrava no organismo humano através da picada do mosquito Anófeles, posteriormente identificado pelo inglês Roland Ross.

Também descrita no livro de Ruschel, a Malária, perdurou na região por mais de 100 anos, sendo controlada apenas por volta de 1940 através do Serviço Nacional da Malária (S.N.M.).

De acordo com Ruschel, em 1940 o Serviço Nacional da Malária, dirigido pelo Dr. Mário Pinotti, colocou um posto em Torres, sob a chefia do Dr. Osório Tenório Lima, e a malária foi combatida em três frentes simultâneas: os doentes, os mosquitos e a prevenção.

Olhem só a novidade! Na prevenção da doença, na época, foi ministrado o medicamento “Cloroquina”, não só aos doentes mas a todos que estavam sujeitos à ação dos mosquitos.

Na destruição do mosquito adulto, foi utilizado o veneno DDT, aplicado nas casas e nos locais infestados. Na prevenção da ocorrência do mosquito, foram atacados os pantanais e as bromélias. Os pantanais foram drenados e as bromélias erradicadas, sendo arrancadas e incendiadas.

Outra epidemia citada por Ruschel, foi a de Disenteria em 1824. Iniciou-se em pleno verão, sendo registrado pelo menos 11 mortes (numa população de 500 pessoas), de 1 de janeiro até o dia 23 do mesmo mês.

Das epidemias (Pandemias) mundiais, a Gripe Espanhola e o Cólera, apenas se tem registro de óbitos pelo vírus influenza da gripe espanhola.

Apesar da epidemia de cólera ter chegado a Porto Alegre na segunda metade de 1855 e ceifado pelo menos 10% da população, não aparecem dados sobre mortes desta moléstia no município de Torres.

A gripe espanhola, causada pelo vírus influenza H1N1, surgiu em 1918, e devido ao alto contágio, o uso de máscaras foi obrigatório, assim como medidas de distanciamento social foram adotadas para conter a doença, tais como suspenção das aulas, eventos cancelados e locais de trabalho fechados em várias cidades.

Mesmo assim até o fim daquele ano, mais de 14 mil mortes foram registradas apenas no Rio de Janeiro. Um dos casos mais notórios foi o do presidente eleito, Rodrigues Alves, que morreu antes de assumir o mandato.

O jornal “Correio do Povo” noticiou em 1918 que no município de Porto Alegre, havia falecido 5.840 indivíduos, sendo que a zona urbana da cidade teria sido a mais atingida, com 4.292 óbitos (a população do município, naquela época, era de 192 mil habitantes).

Por aqui, em 1920, foram registradas 18 mortes creditadas à gripe espanhola, portanto dentro da média gaúcha.

Como se vê Torres não passou imune às várias epidemias, que são cíclicas, vêm e vão, mas cada passagem nos deixa um recado que na maioria das vezes não escutamos. Então, elas vêm de novo...


Fontes: Fiocruz, Universidade Johns Hopkins, Universidade de São Paulo, Ruy R. Ruschel, Correio do Povo, Jornal do Comércio. Tese de Nikelen Acosta Witter, Males e epidemias.

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